sábado, 17 de março de 2012

CERTOS SORRISOS E OUTRAS TRISTEZAS


Kerubino Procópio

A tradição manda dizer que o sorriso é alegria. De pequeno a gente sabe disso. Ele está presente no universo das relações humanas, tanto nos processos formais da sedução, como nos procedimentos informais da dissimulação. Em qualquer caso, o sorriso é um fundamento plástico usado nas expressões dos sentimentos pessoais. Geralmente, ele é uma mostra das festanças da alma. É o que parece.
                   É o que parece porque nem sempre é assim. O sorriso, em algum momento, tem usos e abusos próprios da natureza humana. Na política, então, sobretudo nas campanhas, a serventia do sorriso é um sinal de engajamento. Em nenhum momento o sorriso, repito, na política é sentimento. Quase sempre é uma manifestação artesanal de programação publicitária. Segundo os marqueteiros, ou os políticos sorriem, ou nada feito. Mesmo que se trate, como um assunto do dia, da mortalidade infantil. Esta é uma norma dogmática na cabeça dos especialistas das relações políticas. Pelo que eles pensam, candidato político que não sorrir, não é candidato sério. É o que ser vê a todo tempo nas campanhas de aliciamento de voto. Em cada candidato, um sorriso de plantão, absolutamente impessoal, ou seja, de ninguém pra ninguém.
                   Estou afirmando isso sem qualquer pretensão sociológica ou filosófica ou publicitária. Apenas, não entendo que um sorriso interino, pregado nas faces dos políticos, possa ser moeda de troca com a dor do povo que eles insistem em aliciar. Não sei por que os políticos sorriem se os sentimentos do povo está mais para a tristeza do que para as festas. Por isso, não acredito que estes sorrisos sem remetentes ou destinatários, possam ser passaportes de ganhos eleitorais. Na maioria das vezes, trata-se de um sorriso à toa que faz graças sem ser engraçado. Além disso, já se sabe que, em política, é useiro e vezeiro que, o que importa é a relação típica de Bolsa de Valores com o bolso de eleitor.
                                       Pois bem, a questão é que, nesta linha de impressão um dia qualquer, num programa de televisão, a Ministra Dilma Rousseff, candidata ao Palácio do Planalto, sorriu. Na minha concepção ela deve ter perdido votos com o sorriso, porque o sorriso dela pareceu estranho, inclusive desconforme com o seu próprio humor. Claramente, não é um sorriso de quem chega ou de quem parte, mas de quem passa sem conhecer o interlocutor. Ele não é sequer triste, porque tristeza é sentimento, mas apenas um sorriso solitário. Desconheço se era um sorriso programado, mas, com certeza, foi um sorriso perdido.
                                       Na realidade, quando um sorriso não é natural passa a ser um transbordamento, o que deforma a rota e confunde o viajante. Então, se não é de gosto do político o sorriso, pra que sorrir? Se não é de gosto, também, o uso dos abraços, o abraço não é abraço, mas empurrão ao contrário. Se não há prazer no “corpo a corpo” das caminhadas, caminhar é fazer turismo na alma do povo sem conhecer os seus escombros. No entanto, tudo isto é mandado fazer acompanhado de um sorriso qualquer, como um toque mágico de genialidade política. E o pior é que há quem acredite nisso, mesmo os que nunca se elegem com os sorrisos perdidos, trazidos de tantas eleições passadas.
                                       À vista disso, não sei por que gente séria não pode ser eleita sem os desmanches da própria personalidade, inclusive a Ministra. Talvez eu não conheça certas sutilezas do sorriso no inconsciente coletivo. Coisa de marketing ou mesmo de ciências ocultas que faz a todos iguais na aritmética da sedução.
                                       Discordo dessas pretensões. Acredito no poder das individualidades. É preciso entender que a eleição não é um concurso de simpatia, mas de projetos e de credibilidade e ninguém será punido se não sorrir. Sobretudo, quando perceberem que o sorriso de certos políticos só é alegria na posse.
                                       Finalmente, quero repetir que não estou defendendo nenhuma tese, mas apenas ressaltando uma constatação, pois não lembro de ter visto qualquer configuração de sorriso na vida de Jesus Cristo e ele conquistou o mundo.

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