sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Artigo: Aluízio Alves e o TCE, por Alex Medeiros


Publicado por Robson Pires
O Tribunal de Contas do RN foi instalado em 12 de janeiro de 1961, quase num contexto temporal do limbo, ao apagar das luzes do governo Dinarte Mariz e já recebendo o brilho da nova administração que começaria com Aluizio Alves.
Mas foi concebido ainda na administração do mítico líder do Seridó, que o criou em 1957. O primeiro presidente foi Vicente da Mota Neto, empossado numa conjuntura política de grande rivalidade e que pintaria o estado de verde e encarnado.
Aluízio faz parte da história do TCE como o primeiro governador a ter as contas aprovadas pelo colegiado de conselheiros e por investir na inauguração da segunda sede do órgão, erguida na Rua Seridó em substituição a da Rua Campos Sales.
Entre fatos e versões, o relacionamento do então governador Aluizio Alves com o tribunal foi dado como amistoso, para uns, e de conturbado, para outros. Há casos e causos ilustrando o que teria sido uma sequência de tapas e beijos sem fim.
É recorrente a narrativa em rodas de conversas das perseguições do pai de Henrique Eduardo contra alguns conselheiros, e tem quem conte aos detalhes o dia em que o governador mandou a pintar a fachada, por não poder limpar o TCE internamente.
Certo dia, no comecinho do ano 2000, espalhou-se por Natal, com a força de uma fofoca provinciana, e ganhou contornos de marco histórico, a irrelevante picuinha que questionava os méritos de Aluizio para receber uma medalha de honra do TCE.
Tudo por causa do nome incrustado no metal da honraria, batizada merecidamente pelos conselheiros de Dinarte Mariz, aquele que por décadas fora tido como o maior desafeto do chefe dos Alves no campo político e eleitoral, quiçá na esfera pessoal.
Os comentários à época – lá se vão treze anos – e a histeria quase socialite nas mesas dos restaurantes finos e gabinetes idem, sentenciavam o disparate dos responsáveis pelo inusitado cerimonial da comenda. Quem teria tido tão incoerente ideia?
Condenavam a atribuição do honroso título ao ex-ministro e ex-governador com o argumento de que ele teria sido um carrasco e perseguidor implacável do tribunal, além de nutrir ódio mortal – que seria mútuo – por Dinarte, o patrono da medalha.
O trem da História, porém, não tem trilhos apenas nos pergaminhos de faraós, nas enciclopédias de reis, nas atas de políticos ou nas páginas dos jornais e das revistas. Muitas vezes o comboio histórico entra por desvios e atalhos desconhecidos.
E no alternativo percurso, deixa nalguma fresta de dormentes pequenos registros que podem revelar grandes fatos. Os leitores compulsivos, os curiosos e colecionadores que folheiam até bula farmacêutica, sabem muito bem do que eu estou falando.
Daí que naqueles dias, seis anos antes de Aluizio Alves falecer, me chegou às mãos, descarrilado dos caminhos tradicionais de leitura, o volume nº 1 da “Revista do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte”, de dezembro de 1996.
Fora produzida ainda na gestão do saudoso Nélio Dias, que se tornaria um bravo deputado federal, e tendo como coordenador editorial o jornalista Afonso Laurentino Ramos, então meu colega de departamento de marketing do Diário de Natal.
Como todas as publicações institucionais fadadas ao abandono de prateleiras ou caixas de arquivo, sem merecer qualquer passada de vista, a edição trazia um pouco da história do TCE em depoimentos de figuras relevantes, como o polêmico Romildo Gurgel.
Eram dez páginas reproduzindo o discurso de Romildo, em dezembro de 1994, durante a mudança provisória da sede do TCE. Um discurso surpreendente que remenda a história do relacionamento da casa com Aluízio Alves nos duros anos de fundação.
A fala de Romildo Gurgel foi, na verdade, a primeira grande homenagem que um conselheiro prestou ao bacurau-chefe desde aquele histórico janeiro de 1961. Os desentendimentos da casa com o Palácio da Esperança estavam ali, no discurso.
Protagonista dos mais duros golpes verbais em Aluizio, o orador narrou as brigas iniciais com o então jovem governador, mas logo desmitificou tudo e prestou um emocionado depoimento sobre o imprescindível apoio que consolidou a casa.
O mais incrível no depoimento, guardado para a História naquela revista, é que o briguento ex-presidente (o segundo após Mota Neto) sempre contou com a cumplicidade de Dinarte no fim de cada queda de braço que travava com Aluizio.
O discurso de Romildo é um pedaço do alicerce físico e da estrutura espiritual do TCE, que cabe muito bem no mosaico da própria história política do Rio Grande do Norte. O arauto combatente chega a dizer que sentia saudades do governo Aluizio Alves.
Num dado momento, faz um mea-culpa e afirma categórico: “Aluizio não é aquilo que eu muitas vezes disse, nem aquilo que muita gente pensa”, para em seguida rasgar elogios e confessar bondades institucionais do aparente desafeto do tribunal.
Gurgel chega a contar alguns episódios que considerou de extrema solidariedade do governador Aluizio com os conselheiros e afirma da ajuda providencial para a implantação do TCE, mesmo ocorrendo no fim do governo Dinarte, antes da sua posse.
Aquele depoimento do saudoso fundador do TCE, um dos sete pioneiros ministros de 1961, teve como título “Processo Saudade”. Um discurso que jamais deveria ter ficado restrito a uma publicação institucional, de pouca circulação e naturalmente efêmera.
O discurso de Romildo Gurgel tanto inocenta Aluizio quanto engrandece Dinarte, salvando da fogueira das fofocas as duas personalidades mais relevantes da política local. É uma agulha que costura uma colcha de retalhos que até hoje serve de estopa para cobrir fatos e biografias.
Por Alex Medeiros – Jornal de Hoje

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